Projeto “As Revoltosas” mergulha na história e estética ancestral da Amazônia

Imagem: Fabíola Tuma

E se, além de admirarmos as esculturas históricas que narram nossa trajetória, pudéssemos, de fato, vesti-las? Incorporar as tradições da cerâmica ancestral na indumentária de um povo é uma maneira de expandir, ainda mais, os valores de uma cultura – ou de várias. De um canto a outro, onde quer que se vá, é possível exibir a cultura amazônica através de artefatos que se tornaram mais acessíveis e práticos. Não espere encontrar essas esculturas apenas em museus, sobre pedestais e intocáveis.

O projeto “As Revoltosas” surge a partir de uma extensa pesquisa documental sobre corpos femininos de cerâmica arqueológica encontrados nas aldeias indígenas pré-coloniais da Amazônia. Desenvolvido por Cristiane Martins, fundadora da marca de bioioias, Amazônia Ancestral, o projeto resultou em uma coleção de 12 esculturas vestíveis inéditas. Estas peças, inspiradas na estética originária, foram produzidas utilizando materiais como madeira, fibras, folhas de ouro, fios, folhas, urucum, marchetaria, cascas e sementes.

As esculturas criadas por Cristiane representam mulheres atemporais que, após serem soterradas pelas cidades, emergem da terra superando as barreiras do tempo cronológico. Elas trazem consigo corpos políticos que protestam por preservação patrimonial, ambiental, prestígio, representatividade feminina e lugar de destaque. Além disso, reivindicam a autoria da estética e técnicas manuais que são amplamente utilizadas nos dias de hoje.

“As Revoltosas é um projeto que criei há alguns anos e que foi materializado por conta de uma premiação que recebi da Fundação Cultural do Pará. É o projeto que mais traduz a minha fusão entre a Arqueologia e a Arte, a pesquisa acadêmica e a experimentação artística, a cultura material e a economia criativa, empoderamento feminino e a estética ancestral.” afirmou Cristiane.

A designer destaca que a escolha pela representação de corpos ancestrais femininos objetiva marcar e celebrar o poder das mulheres nas sociedades pré-coloniais e contemporâneas. “Para mim, trata-se de dar voz à tantas mulheres caladas historicamente”, enfatiza.

“No meu trabalho, uso as informações da Arqueologia amazônica para divulgar o saber-fazer ancestral para um grande público, que muitas vezes não tem acesso ao que é produzido na academia. Nesse sentido, o conteúdo de moda é estratégico e crucial para o amplo acesso da identidade profunda amazônica. Moda é habilidade de pesquisa. Por isso, no processo criativo e autoral, é essencial fazer uma curadoria detalhada no meu repertório de arqueóloga. Considero esse um diferencial da Amazônia Ancestral.”

O projeto não só resgata a importância das mulheres nas sociedades pré-coloniais, mas também promove a fusão entre o passado e o presente, através de uma abordagem estética e cultural que valoriza a história e a identidade amazônica. Através de suas esculturas vestíveis, Cristiane Martins oferece ao público uma nova perspectiva sobre a moda e a herança cultural da Amazônia, destacando a importância da preservação e valorização do patrimônio ancestral.

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